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Os fortes ventos de leste  

 

O início das intempéries invernosas chegou em cima da mudança horária. Mais cedo do que é habitual, pois os ciclones, como diz o povo, costumam surgir em Fevereiro-Março.

Estes fenómenos naturais a que os açorianos estão habituados, desde tenra idade, moldam a identidade do ilhéu que afronta os elementos para sobreviver.

Para tanto, necessitou de aprender os sinais que a natureza lhe proporcionava, para cuidar das tarefas do dia-a-dia, em terra e no mar.

A Montanha do Pico constitui, de há muito, para pescadores e marinheiros, lavradores e pastores, um observatório meteorológico. Através da posição e das mais variadas formas das nuvens, das cores do sol posto ou do amanhacer, os entendidos conseguem prever a direção do vento, o estado do mar, a aproximação da chuva ou do mau tempo e os dias de calmia. A Montanha mais alta de Portugal é um verdadeiro barómetro das ilhas do Triângulo e deve ter servido durante séculos os navegantes que, com rudimentares meios de orientação, passavam por estas ilhas do Atlântico Norte.

Hoje, a existência de equipamentos sofisticados de observação meteorológica permite previsões fiáveis de vários dias, acessíveis a todos através das novas tecnologias da informação.

Está-se, por isso, a perder a ciência empírica de ler o céu. Os velhos e sábios marinheiros não passaram o saber aos mais novos. Resta-nos, apenas, da sabedoria popular, uma série de provérbios relativos ao tempo que importa divulgar, pois esse património tem grande valia quer científica quer linguística.

Vem tudo isto a propósito da informação meteorológica para os Açores, veiculada pelas televisões nacionais. Os apresentadores revelam uma enorme ignorância sobre a geografia das ilhas e resumem o tempo no arquipélago a dias de chuva ou de sol. Como se o mar não rodeasse estas ilhas e não causasse danos e constrangimentos que nos coarctam a liberdade de movimentos e nos impedem de partir quando queremos.

No arquipélago a meteorologia previu ventos fortes e mar com vagas de 9-10 metros, capazes de entrar por terra dentro, como é habitual, enquanto no continente as barras fechavam devido a ondulações de 5-6 metros. Dos Açores, nada se disse, enquanto se amedrontavam os continentais com alertas amarelos com chuvas fracas que só provocaram inundações por incúria e falta de limpeza.

Estamos, de facto, muito longe da capital!

Devemos, por isso, insistir que as diferenças de fundo que nos marcam para toda a vida, vivamos nós na ilha ou no exterior, devem merecer um tratamento diferenciado, a que os poderes autonómicos tem o dever de dar resposta, ajudados pelo estado e pelas instâncias internacionais a que pertencemos.

Mas não basta insistir. Importa resistir aos afrontamentos e desrespeitos constantes dos preceitos autonómicos, consagrados constitucionalmente. Mesmo em tempo de crise, pretender que os açorianos sejam afetados em prerrogativas justificadas pelos custos da insularidade, é atentar contra direitos, o que não devemos permitir. Até porque, cada vez mais, credenciados economistas advertem para os efeitos catastróficos das medidas do governo, que juntamente com a União Europeia, terá de refletir sobre a situação grega, e o futuro da Europa.

Há cada vez mais gente convencida de que ao pretender-se reformar o Estado e a Economia, se deve ir devagar, sob pena de estar-se a deitar abaixo estruturas e práticas que, não sendo perfeitas, constituem o suporte da organização administrativa e social de um povo e de uma nação.

Diz um princípio filosófico: A natureza não dá saltos.

É esta experiência milenar que deve nortear a boa gestão dos estados e das instituições, sem, todavia, esquecer que « todo o mundo é composto de mudança ».

Não vão bons os dias por que passamos, nem o tempo é de calmia.

Oxalá bons ventos nos tragam as cimeiras e a milenar sabedoria grega para que o dinheiro seja súbdito e não o senhor da humanidade.


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